Simplesmente experiencie plenamente a ganância, a aversão, a indiferença e deixe que elas falem com você, sinta-as, não tente consertá-las.
O lugar para onde se quer ir (ou estar) não é uma preferência pelo que é experienciado, não é manipulação da experiência, mas sim uma espécie de intimidade com a experiência e uma atenção muito suave ao momento em que surge “expectativa” e “interpretação”. — a expectativa é uma forma de má vontade (“o que está acontecendo não é importante, o que importa é o que vem depois”), a interpretação é uma forma de má vontade (“essa experiência precisa ser interpretada para ter significado, ela não tem valor por si só”).
Quando você permite que as experiências sejam exatamente como são, é aí que os insights acontecem. Ironia: insights não precisam de interpretação. Eles simplesmente vêm até nós — quase de “fora” de nós mesmos — sem que façamos acontecer. Portanto, não transforme nem mesmo a ganância, a aversão ou a indiferença em outra coisa. Apenas experimente-as plenamente, deixe que falem com você, sinta-as, não tente corrigi-las.
Obviamente, esse é um conselho para alguém que já tem uma prática sólida, que já é psicologicamente estável, que já passou pelas nanas (etapas da meditação), que já desenvolveu um nível básico de absorção e que também consegue repousar na experiência da concentração/atenção momentânea, e que está tentando descobrir onde está o “nó” da vontade (ou intencionalidade) que nos faz, sem querer, continuar evitando a experiência de nibbana. Quando paramos de “ir para algum lugar” e paramos de “forçar o aqui e agora”, passamos a ressoar com a experiência-como-é e com o nibbana.
É como se estivéssemos balançando nosso martelo por todos os lados, mas finalmente acertássemos o “sino” — e o som é o nibbana. Ironia: o sino sempre esteve exatamente aqui, como é.
Talvez notar a “vontade/intencionalidade” possa ajudar? Quando as coisas ficarem agitadas, perceba a própria experiência da vontade.
De qualquer forma, confie que, se você deixar de dirigir suas práticas, elas irão para onde precisam ir. Você já tem as habilidades e a base necessárias para esse tipo de prática. A mente é muito, muito mais inteligente do que nossos pensamentos. Ela sabe para onde nos levar. Ninguém jamais “descobriu” como experienciar o nibbana. Pensamentos são apenas objetos da mente, como sensações, impulsos e emoções. Não é a resposta, nem um problema.
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