Segue o contexto da conversa em que a resposta foi dada.
O praticante estava tentando/forçando ver a sequência contato nos sentidos > sensação > apego, mas tendo dificuldades/confusão ao fazê-lo. O praticante também tinha fases boas de atenção plena e concetração de acesso, depois perdia, entrando numa fase de torpor. Nesta fase ele tentava forçar sair da situação.
Resposta do Shargrol
Em geral, é melhor colocar a mente no que está claramente surgindo, em vez de tentar ir direto para o "contato". Se o apego estiver surgindo, coloque a mente o mais próximo possível da sensação de "apego" e naturalmente se transformará em "sensações" e talvez até mesmo em "contato". Se as sensações estiverem surgindo, coloque a mente o mais próximo possível da experiência de "sensação" e talvez ela possa se transformar em contato.
(Mas preocupar-se com tudo isso é muito técnico, a resposta é sempre estar atento ao que já está ocorrendo no momento presente — simples!)
Embora, teoricamente, o contato seja "melhor" do que as sensações, e as sensações sejam melhores do que o apego, se você tentar superar o que está surgindo no momento, isso cria uma sensação de aversão inconsciente ao que está surgindo no momento. Isso faz sentido? Você se tornou um "eu" que não está experimentando diretamente o momento presente, mas sim sendo um perfeccionista e julgando adversamente o momento presente. Veja se consegue perceber isso quando acontece. Essa é a nossa necessidade egocêntrica de ser um bom/perfeito meditador, de fazer progresso, etc. Tudo bem ter esses desejos, mas na meditação é importante perceber esses desejos e não se envolver no papel de "ser o meditador perfeito".
É muito importante notar quando nosso "eu" quer mudar como a meditação está ocorrendo, como quer manipular a experiência em algo "melhor". Isso é normalmente como vivemos nossa vida, mas na meditação precisamos aprender a deixar de lado o instinto de autoaperfeiçoamento. 99% da meditação seguirá este padrão:
- Percebendo que está perdido em pensamento ou emoção - você não pode controlar isso, a mente perceberá isso por si só através de sua inteligência natural. Você se encontrará "de volta de um transe".
- Deixando de ser um "eu" que está pensando ou planejando ou julgando ou tentando manipular a experiência — e notando isso "pensando, pensando", "planejando, planejando", "julgando, julgando", "manipulando, manipulando", "corrigindo, corrigindo", etc. etc.
- Então, depois de notar o tipo geral de pensamentos que está tendo, observe se havia uma emoção associada a esses pensamentos. Você estava preocupado, desapontado, triste, sentindo-se um fracasso, se sentindo poderoso, entediado, feliz, orgulhoso? Note esse tom emocional.
- Agora volte às sensações que já estão presentes - as sensações da respiração, as sensações de sentar. As sensações físicas estão sempre no momento presente, então se você está consciente de uma sensação, está de volta ao momento presente. Note uma sensação, qualquer sensação. Bom, você está agora presente.
- Agora você pode decidir continuar com a notação estreita (foco apenas nas sensações da respiração ou sensações em geral) ou ampla (sensações, emoções e pensamentos). Desenvolva uma habilidade e intuição sobre quão ampla/aberta sua mente pode ser. Às vezes você pode sentir-se inclinado à notação estreita, às vezes ampla. Ambas são igualmente válidas, a notação é apenas um quadro geral para ajudá-lo a receber feedback sobre estar presente.
- Continue notando no ritmo de aproximadamente uma notação a cada expiração...
- Em algum momento, você perceberá que está perdido em uma emoção ou pensamento. Bom! Sem problemas! Na verdade, queremos que isso aconteça (falo mais sobre isso abaixo), apenas sorria e volte ao passo #1.
Note como a inteligência natural de sua mente o trouxe de volta do estado perdido. ISSO É O QUE É TREINADO. Não estamos tentando forçar a atenção plena perfeita. O que estamos fazendo é criando condições para que a inteligência natural da mente se ensine a estar atenta. A mente está aprendendo a sair de um transe emocional ou mental. Para aprender, precisamos "falhar" muitas, muitas, muitas vezes, mas na verdade não é falha, é TREINAMENTO de meditação.
E então, quando você faz a observação do pensamento e da emoção (etapas 2 e 3 acima), está ajudando sua mente consciente a aprender sobre as coisas que o colocam em transe. Essas etapas são mais como treinamento psicológico, você está aprendendo sobre os modos subconscientes pelos quais sua mente se afasta do momento presente e se perde.
Espero que você possa ver que o treinamento em meditação é diferente do treinamento em psicologia. Na psicologia, olhamos para a mente e tentamos entendê-la, compreendê-la. Mas no treinamento em meditação, estamos desenvolvendo a inteligência natural da mente, que não podemos treinar intencionalmente. Isso simplesmente acontece à medida que passamos mais tempo estando atentos e passando de um transe para a presença muitas e muitas vezes. A observação é um método de prática muito bom porque nos dá um quadro para perceber quando entramos em transe (paramos de observar!) e nos dá um quadro para a introspecção psicológica ao observar os pensamentos e emoções pegajosos que nos levam a um transe.
O progresso na meditação acontece além do nosso controle direto. Mas o progresso na meditação acontece se mantivermos uma prática diária consistente com um método que nos ajude a aprender sobre os transes. Com o tempo, a mente preferirá se tornar mais atenta porque há menos confusão e sofrimento na atenção plena. (Os transes são sedutores, mas viver em um transe é confuso e estressante e causa problemas porque estamos desconectados da realidade). Tudo isso leva tempo e não pode ser forçado, só pode ser encorajado por meio de uma prática consistente.
Espero que isso ajude de alguma forma, definitivamente desconsidere se for muito confuso ou parecer não se aplicar à sua prática. Cada pessoa é diferente e precisa de maneiras ligeiramente diferentes de enquadrar sua prática. Concentre-se no que funciona para você.
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